Que saco! Uma guriazinha de nome Isabella Nardoni, em todo noticiário que vejo, ela está! Que chatice! Que gente mais prepotente em achar que todo mundo quer ver isso. E olha que ela não é nenhuma atriz-mirim, cantora infantil, ou gênio de Q.I elevado; ela é só mais uma DEFUNTA! Cadáver, que me parece que não enterraram em cova tão profunda. Razão? Não sei, mas acho que não há cova profunda o bastante para impedir a mídia de desenterrar, debulhar, e mais tarde exumar de volta, e “re-exumar” para garantir que pessoas como eu continuem sem saco para suportar tantas delongas.
Já são dezessete dias de falação. Um sujeito que é o pai; uma moça que é a madrasta; uma filha que voou pela janela; duas outras crianças que estavam por lá; e uma mãe que na hora não sei o que fazia, mas agora com certeza, chora. Resumo da ópera: Só mais um caso de morte entre seres humanos normais. É a natureza humana. Acontece todo dia:
"namorado de menina de 14 anos atira no atual namorado dela, anda pelo telhado de madrugada e rouba o cachorro da família"
"bairro barra alegre: homossexual bate em mulher de namorado, e leva tiro da namorada da mulher do namorado. O pai do primeiro homossexual, entra na briga e perde a carteira, volta à cena do crime e leva um coro dos visinhos"
Mas o povo gosta! :D... Gosta demais da conta... Desde que os gregos inventaram a tragédia como representação das tragédias reais e verdadeiras da vida, o homem ama isso. E ainda mais quando se pode acompanhar um drama não encenado, mas em fatos reais, e que em cada ato dessa peça, os telespectadores ficam sentados no sofá da sala e comentando com a mulher ou o marido, as suas conclusões ajuizadas e moralizadas do ocorrido. É um mecanismo de socialização familiar; de prepotência pessoal. Todos sentem parte do drama, e, ao mesmo tempo, acreditam serem juízes. É o poder ilusório às custas dos outros e veiculado pela mídia a um custo baixíssimo.
E não vou esquecer da polícia. Já apareceram uns três delegados, a PF, a guarda municipal, um ou dois juízes, desembargador, um segurança de rua, um guardador de carros, uma centena de policiais de baixa patente, e é claro, os protagonistas. Sempre perseguidos pelas câmeras vorazes, como se fossem artistas. Engraçado é ver que todos eles, com exceção dos protagonistas, vivem procurando uma brecha para aparecerem na tv, como se figurantes de filme, fossem.
Nos noticiários, eles contam toda a introdução da história. Falam de tudo desde o início da trama, como se algum compatriota não soubesse dos atos anteriores. São reconstruções (reloads), animações, esquemas; tudo para o telespectador possa sugar ou absorver tudo daquela tragédia humana. E depois desse histórico, eles mostram as “novas”: “um visinho depôs”; “um cachorro que passava na hora latiu duas vezes, mas não se sabe para quem, ou o quê”. É um grande circo! Com um coliseu de quase 200 milhões de pessoas.
Eu só vejo tv por assinatura, de preferência canais estrangeiros. Me atenho apenas a noticiários nacionais, e agora essa... Que hei de fazer agora? Nada! Pego uma boa tragédia de Racine e vou ler. Minha catarse será algumas vezes maior do que a tragédia popular. E quer saber de quem é a culpa? Foda-se a culpa! Diante desse escarcel, deviam arquivar o processo e pagar um bom psiquiatra para todo mundo. O certo é que a mídia é culpada pelo meu mal-estar; por não me deixar opções inteligentes e mais interessantes na tv. E quer saber? Que vá, a mídia, o povo, essa loucura toda, e quem mais quiser, para o inferno!