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Este blog trata de assuntos variados. Destacam-se os temas políticos, ideológicos, morais, sociais, e econômicos.

24 novembro 2008

A SUPERECONOMIA NORTE-AMERICANA DO SÉCULO XIX E OS MAGNATAS


Escrito por Charles R. Morris, “Os Magnatas”, é um livro que pretende ser uma biografia de quatro grandes personagens da história norte-americana: Andrew Carnegie, John Rockefeller, Jay Gould, e J.P Morgan. O livro aborda a vida pessoal e profissional desses protagonistas e de fundo a realidade e o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos no século XIX. Entretanto, vai além de uma biografia. O livro é um verdadeiro raio-x da sociedade americana do século XIX. Temas como a guerra civil, os bastidores da política, aspectos sociais, técnica, inovação, contexto internacional, e uma apurada análise da economia norte-americana em diversos momentos, fazem do livro não só uma biografia simplória dos quatro magnatas, mas um portfólio de informações sobre a história e sociedade norte-americana.

O livro explora vários aspectos econômicos daquele tempo, exemplificando abundantemente as façanhas tecnológicas e inventivas dos homens que fizeram a América. A ênfase nos quatro grandes magnatas se faz não somente por eles serem homens que alcançaram riqueza e fama, mas também por eles serem um exemplo sublime do empreendedorismo e gênio norte-americano; e ainda por terem estabelecido uma era de prosperidade e avanços só igualados no século XX; embora sem a proeza da originalidade daquele tempo.

No primeiro capítulo, Morris cita um discurso de Lincoln durante a primeira campanha eleitoral:

“(...) melhor para todos deixar que cada homem seja livre para adquirir propriedade o mais rápido que puder. Alguns vão ficar ricos. Não acredito em uma lei para evitar que um homem enriqueça. (...) queremos dar ao homem mais humilde uma chance de ficar rico igual a de todos os outros.”

Outra importância de Lincoln foi o foco dado por ele ao talento norte-americano pela inovação. Nessa passagem vemos essa característica denunciada pelo autor:

“Nós, aqui nos Estados Unidos, achamos que descobrimos, inventamos e aperfeiçoamos mais rápido que qualquer nação européia. Eles podem achar que isso é arrogância, mas não podem negar que a Rússia nos chamou para lhe mostrar como construir barcos a vapor e ferrovias.”

No segundo capítulo intitulado de “A glória do ianque simplório”, o autor explora ainda mais a superioridade do gênio norte-americano sobre os outros povos. Ele põe o contexto de uma exposição internacional de tecnologia realizada em Londres: a exposição do Crystal Palace. Nesse evento, inventores, técnicos, mecânicos, engenheiros, industriais, descobridores e toda uma gama de americanos comuns surgiam com inovações nunca vistas no velho mundo. A Europa, e em especial a ex-metrópole, via e não podia acreditar que os norte-americanos estavam tão avançados, superando em muito, a técnica e engenharia européia.

Os britânicos acostumados a verem os inventores e produtores americanos como sendo utilitaristas, produzindo cinzeiros, barras de sabão e saleiros de mesa; tiveram que engolir a seco o “boom” inovador que o país vivia já na metade do século XIX. Armas, indústria náutica, maquinário, etc. Os americanos estavam muito a frente.

Após a exposição, estavam todos convencidos de que a América era um gigante adormecido, mas que estava por despertar.

O autor credita a liberdade, capacidade e aceitação inventiva (cultura da inovação), educação, facilidade para abrir empresas, menor mão do Estado, como responsáveis pela avalanche de desenvolvimento norte-americano. Os recursos naturais existiam em abundância, mas não eram fundamentais para que a América se tornasse uma potência industrial, superando em menos de cinco décadas todas as outras potências.

As fazendas Bonanza eram um marco do poder de produção e revolução que os norte-americanos foram capazes de fazer. Eram fazendas de grande extensão, mas mais do que isso, trabalhavam sob um sistema industrial. Nas palavras de Morris:

“Fazendas Bonanza, assim chamadas por seus lucros enormes, eram fazendas de milhares de hectares com um gerenciamento de produção no mesmo estilo do das fábricas, a máxima mecanização, quadro de empregados residentes reduzido, grande dependência de trabalho sazonal e normalmente com proprietários/investidores não-residentes. As operações se organizaram e padronizaram a tal ponto que eram desempenhadas em grande parte por não-fazendeiros.”

A segunda metade do século XIX apresentou também uma alta taxa de crescimento da classe média urbana. O consumo de bens crescia na medida em que mais e mais pessoas integravam a classe média que estava sedenta por consumir. Ali nasceram as grandes lojas que vendiam de tudo para casa: roupas, cortinas, sofás, mesas; enfim, tudo para utilidade do lar. A classe média norte-americana tinha acesso a uma variedade impressionante de bens, algo que não era visto em nenhum outro país,

Enquanto nasciam centenas de escritórios responsáveis pelos papéis das grandes indústrias que nasciam, o Estado concedia facilidades de adquirir bens e propriedades para todos. Eram as terras do oeste, adquiridas a preço de bagatela. O avanço para o oeste levava consigo as ferrovias. Veias de ligação e fornecimento de matéria-prima para todo o nordeste industrial. Era a nova fronteira agrícola e demográfica do país.

Nessa época, Andrew Carnegie, que seria o magnata do aço, era apenas um jovem buscando um espaço no mundo. Segundo o autor, ele  “era o mais temperamental dos magnatas. Baixinho, com apenas 1,65 m, cabelos louros pálidos, mãos e pés pequenos e um rosto de menino, era como uma criança travessa, vigorosa e incansável. Falava com energia, tinha opiniões fortes e subservientes, era bajulador e provocador e de uma rapidez sobrenatural em compreender qualquer coisa que fosse de seu interesse.”

Quando criança, Carnegie catou carretéis em indústrias de Pittsburgh, foi escriturário, e mensageiro de telégrafos. Nesse último trabalho, Carnegie se destacou como mensageiro oficial dos grandes negócios. Ele era um homem dedicado, lia muito, e se aperfeiçoava com estudos extras. Com um empresário de nome Tom Scott, Carnegie iniciou sua função de administrador de ferrovias. Ali faria carreira.

Entretanto, ele sairia do ramo das ferrovias depois de visitar a Inglaterra e conhecer as grandes siderúrgicas inglesas. De volta aos Estados Unidos, ele começaria seu império do aço, que por sua vez, desembocaria na Carnegie Steel, que, em vinte anos seria a maior empresa produtora de aço do mundo.

Essa relação entre ferrovias, telégrafos e o aço nascia do fato de que as ferrovias representavam a diminuição da distância entre os pólos produtivos, o que gerava uma rapidez também nas informações trocadas, e isso tudo precisava de aço para o aumento do número de linhas e vagões. Eram as três colunas de sustentação da expansão norte-americana que viabilizaria o desenvolvimento extraordinário daquele século.

John Rockefeller tem uma história igualmente magnânima. Apesar de não ter passado na infância e juventude pelos problemas da pobreza, pois era filho de fazendeiros e sempre pertenceu à classe média do oeste americano, John era tão competente quanto Carnegie.

Em 1855, John Rockefeller começa a trabalhar com um comerciante. Dois anos mais tarde ele adquire um empréstimo de mil dólares com seu próprio pai e abre uma sociedade com um negociante de produtos agrícolas. Ali ele já demonstrava sua capacidade de aprendizado e gerência. Tempos depois, ele descobre por meio das descobertas de um pesquisador que havia desenvolvido uma técnica para produzir o que naquele tempo era chamado de “óleo de pedra”. E com as notícias que informavam que aquele seria o combustível do futuro, Rockefeller atenta-se para o novo ramo: Petróleo.

Dois anos mais tarde, Rockefeller com vinte e dois anos alia-se a outro negociante para financiar uma refinaria de petróleo na Pensilvânia. Para o novo empreendimento, foi Rockefeller quem decidiu onde seria instalada a nova refinaria de petróleo, perto de transportes para escoação da produção. Desde o começo a refinaria dava lucros, e em pouquíssimo tempo ela já era a mais lucrativa da região. Muito em razão de John Rockefeller, que era um exímio estrategista e contador, mantendo a contabilidade impecável.

Rockefeller iniciou sua ascensão quando comprou a parte dos sócios na refinaria e iniciou um processo contínuo de aquisições bem peculiares dele. Ele comprava todos os concorrentes; procurando diminuir custos e aumentar a lucratividade de forma voraz. Buscou ao mesmo tempo, unificar o ciclo produtivo comprando empresas que forneciam transporte, beneficiamento, extração e todos os outros meios dos quais eventualmente apareciam no seu caminho. Em poucos anos, Rockefeller conquistara mercados, comprara docas, estradas, reservatórios, e outras refinarias. Toda estrutura ao redor do seu negócio precisava ser controlada por ele, e assim ele o fez.

Jay Gould era um homem bem diferente dos dois anteriores. Tinha uma fama péssima; diziam que ele era um homem sem escrúpulos, imoral e que não tinha regra que ele não desse um jeito de burlar.

Jay Gould é, em minha opinião, o mais excêntrico dos quatro magnatas. Em razão da sua formação física franzina, o pai de Gould ficara desapontado, e foi obrigado a largar o trabalho na fazenda por uma loja na cidade. Talvez, a sua pouca vitalidade física era compensada por uma ambição e desprezo pelas regras sociais, tão evidentes durante sua vida. Nas palavras do escritor: “Ele se virou praticamente sozinho desde os treze anos, quando o seu pai o matriculou em uma escola secundária em uma cidade vizinha e o deixou lá com uma pilha de roupas e cinqüenta centavos. Jay logo arranjou um emprego de meio expediente como guarda-livros autodidata e também demonstrou ser um aluno excelente, com um gosto verdadeiro pela literatura e um texto de estilo surpreendentemente maduro”.

Jay Gould foi um nome ligado à chamada “Guerra da Erie”, onde o país viu uma verdadeira batalha travada no mercado de capitais. Jay Gould adquiriu capacidade de influenciar os mercados promovendo uma corrida por ações que baixavam e subiam ao seu comando. Depois desse episódio, ele seria uma figura satânica nos meios financeiros.

Anos depois, ele voltaria com força total com a aquisição de diversas empresas ferroviárias. Mas dessa vez, ele agiria de uma forma menos chocante. Passou a controlar a maior parte das rotas importantes dentro dos Estados Unidos. Foi justamente ele, o responsável por formar o sistema norte-americano de transportes e informações, criando linhas e mais linhas sem a demanda correspondente. Era típico dele a loucura genial.

J.P Morgan era o “homem do dinheiro”, de todos os outros, ele era o mais abastardo. Vindo de uma família razoavelmente rica, estudou muito antes de entrar de cabeça nos negócios.

Morgan descendia de uma família bem sucedida. Seu pai era banqueiro, e desde pequeno estava inserido no meio dos negócios. Ele era extrovertido e possuía grande talento para números, apesar de possuir também uma atração para riscos nos negócios. Trabalhando no banco do seu pai, J.P Morgan financiava a curto prazo diversos empreendimentos. Estudou na Europa, aprendeu línguas, ganhou bagagem, e quando voltou para os Estados Unidos, todos diziam que ele assumiria o negócio do pai. Leso engano, J.P Morgan resolve abrir seu próprio negócio. Financiando muitos negócios de terceiros, ele conseguiu ser o banqueiro dos grandes empreendedores. Sempre com uma visão objetiva e certeira nos negócios que sentia que dariam certo. Ele foi capaz de acertar em vários investimentos, entre eles o da fusão que daria origem à General Electric.

A partir do final do século dezenove e começo do século vinte, os trustes começaram a ser realmente combatidos. Nessa época, os Magnatas sofreram reveses.

A Standard Oil fôra dividida em diversas outras empresas. Nessa época também, Rockefeller já não era administrador. A US. Steel também sofrera muito. Carnegie passou a investir em diversas obras de caridade. Jay Gould abandonara os negócios, e continuou rico até sua morte em 1892. E J.P Morgan colecionaria bons investimentos até sua morte em 1913.

Eles marcariam a história dos Estados Unidos com uma herança de grandiosidade, força de vontade, inteligência e capacidade gestora.

A economia americana nunca seria a mesma. Aquela era de ouro estava acabada. O ressurgimento de uma grandeza econômica como aquela só viria de forma semelhante nos anos pós-guerra. Mas mesmo assim, nunca poderíamos dizer que poucos homens influenciariam com tanta vitalidade os rumos de uma economia e de um país, e em tão pouco tempo.

A frase do autor é apropriada:

A supereconomia americana foi criada por quatro homens: Andrew Carnegie (1835-1919), John D. Rockefeller (1839-1937), Jay Gould (1836-1892) e J.P. Morgan (1837-1913). Eles foram os gigantes da Era de Ouro, os magnatas por trás do exuberante crescimento econômico que fez dos Estados Unidos o país mais rico, mais criativo e mais produtivo do planeta. Eles são, literalmente, os fundadores da economia norte-americana - e, portanto, dos Estados Unidos moderno. De Carnegie, o imperador do aço, passando por Rockefeller, o barão do petróleo, e Gould, o homem das ferrovias e inescrupuloso manipulador da bolsa de valores, até chegar a Morgan, banqueiro de sangue azul com uma intuição para uma economia globalizada, o conceituado escritor e jornalista Charles R. Morris recupera a história - e o legado - desses quatro homens, tão fascinantes quantos controversos. Em uma instigante narrativa, acessível a todos os interessados em história e economia, Morris revela como eles transformaram a jovem e sedutora nação norte-americana em uma potência mundial.”